terça-feira, 30 de setembro de 2008

GANHO QUE ME DÁS PERCA!!!

Ele fazia muitas contas ao dinheiro... que era escasso, e esta coisa dos preços dos combustíveis mexia mesmo com ele! Subidas, descidas, subidas maiores que descidas... ele perscrutava cada bomba de gasolina para ver onde podia poupar uns cêntimos!

Descobriu! Umas bombas pertencentes a um hipermercado - não digo qual por causa da publicidade - tinha o gasóleo 2 cêntimos mais baratos que as bombas normais! Bem dito, bem feito, ele pegou no carro e para lá se dirigiu, até porque no dia seguinte adivinhava-se outro grande aumento dos combustíveis!

Mas, como ele, houve muitos, mas mesmo muitos, outros portugueses que se lembraram de atestar os depósitos com o litro a menos 2 cêntimos... não era muito mas sempre dava para o tabaquito! E tabaco foi coisa que não faltou nessa noite... então não é que ele esteve quase duas horas na bicha - perdão, fila! - para encher o depósito?

É certo, poupou uns 60 cêntimos no combustível, mas - e há sempre um mas - um maço de cigarros quase foi à vida, tal os nervos de estar tanto tempo à espera e sabendo que o seu clube estava a jogar... e ainda por cima a perder! Bem feitas as contas, melhor teria feito em ficar em casa... poupava os pulmões e ainda tinha dinheiro para o cafézito do dia seguinte... e a mulher dele não estaria com o olho negro a esta hora!!!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

TORTO QUE TORTO VÊ, DIREITO LHE PARECE!

Ele tinha os olhos tortos. Já nascera assim, com um olho a olhar para cima e o outro olho a olhar para baixo. Os médicos não conseguiram fazer nada, apesar das operações a que foi submetido. Situação que não lhe tirava uma vida praticamente normal. Tirou o seu curso técnico, arranjou um emprego e agora só faltava mesmo uma família...

Ele trabalhava numa clínica de mamografias Dezenas de mamocas passavam-lhe pelas mãos todos os dias, mas literalmente pelas mãos, pois ele tinha que lhes pegar, ajeitá-las e colocá-las na prensa... a maioria das mulheres sabe como é... e depois dizer para se porem de frente e em seguida de perfil!

Todo o tipo de mamocas lhe aparecia ali, umas bem pequeninas, outras pequenas, outras médias, algumas grandes, outras enormes e outras ainda volumosas. Todas ele manuseava com o mesmo profissionalismo, afinal era a profissão dele, não podia misturar as coisas. Mas sempre sonhou que um dia lhe apareceria uma donzela com os peitos perfeitos por quem ele se apaixonasse...

Um dia apareceu por lá uma moça que a natureza não bafejou com a sorte de ter duas mamas iguais: o biquinho de uma apontava para cima, o biquinho da outra apontava para baixo... mas para o jogo de olhos dele aquela sim, era a perfeição, chegara a mulher por quem ele tanto esperara... hoje vivem os dois muito felizes e tiveram muitos filhos - felizmente nenhum dos rapazes com os olhos tortos e nenhuma das raparigas com as mamocas desencontradas...

domingo, 28 de setembro de 2008

MULTIBANCO E O ASSALTO À CAIXA!

A moda dos assaltos a caixas multibanco, gasolineiras, ourivesarias e afins era por demais evidente! Ele já tinha participado em inúmeros assaltos, mas - por azar para ele - sempre mal sucedidos. Ou escolhia mal o local, ou a hora, ou a oportunidade, ou se descaía com alguma coisa...

Ele sabia que antes de fazer um assalto - dizem os manuais que eu não sei - o principal protagonista do assalto deverá fazer um reconhecimento da zona e do local propriamente dito! Foi o que ele fez: andou vários dias a caminhar para a gasolineira e a certificar-se da posição exacta da caixa. Ela lá estava, sempre no mesmo local, apetitosa, como que a dizer «por favor, levem-me daqui»... e ele entrava e saía, e comprava sempre qualquer coisa por mais pequena que fosse...

E a caixa? A caixa lá continuava debaixo do seu olhar suplicante... quantas histórias teria aquela caixa para contar? Ele não conseguia arredar pé, tal o hipnotismo e a fascinação que aquela caixa lhe provocava. Um dia tinha que consumar o acto! Imaginou-se nas notícias de primeira página dos jornais e de abertura dos telejornais...

E alguém já viu uma caixa loira? Pois ele já tinha visto e tinha-se ... apaixonado por ela, pela caixa da gasolineira, menina aí para os seus vinte e poucos anos, de sorriso fácil e olhos grandes... um bocadinho gordinha, é certo! Um dia ele raptou a caixa e nunca mais o apanharam...

sábado, 27 de setembro de 2008

A RELAÇÃO DELES ERA MUITO PRÓXIMA E ÍNTIMA...

A relação deles era muito próxima! E muito íntima! Todos os dias - pelo menos uma vez - ela estava em contacto com a pele dele. E percorria-lhe todo o corpo várias vezes... E quase sempre demoradamente! Desde a ponto dos cabelos à ponta dos dedos dos pés! Era uma cumplicidade total!

Há anos que esta intimidade entre os dois durava! Alguém já havia prognosticado que não era normal uma relação desse tipo durar tanto tempo, mas o tempo aí estava para provar o contrário! E todos os dias as mesmas carícias, o mesmo contacto demorado e húmido!

Para ele era imprescindível aquela sensação. Era mesmo impensável passar sem esses momentos. Nem o dia correria bem de outro modo! E ela ali estava sempre disponível, sempre pronta para ser tocada, afagada, acariciada...

Mas o tempo passa... e o tempo é implacável! Mesmo o que pensamos que vai durar para sempre por vezes prega-nos uma partida! E assim foi também com aquela... esponja de banho! Tinha durado muitos anos, tinha lavado muitos centímetros quadrados de pele mas agora estava a desfazer-se... era mesmo altura de ele se desfazer dela (a esponja) e arranjar outra nova...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

AS HISTÓRIAS DA MILUCHA - V e última

Ter um diminutivo em criança pode levar a vários equívocos. A Milucha que o diga! Ela entrou para a escola no mesmo dia que eu, embora fosse uns meses mais velha não conseguiu entrar no ano anterior por causa das vagas.

Soube-se depois que a professora da sua 1.ª classe ao chamá-la a chamou por Emília e não por Milucha, claro! Acontece que a Milucha não sabia que se chamava Emília, nunca ninguém a tinha tratado por esse nome nem sequer lhe tinham explicado a razão de ser de Milucha.

Parece que foram longos os minutos até a professora descobrir que a Emília era a Milucha, mas o maior choque foi sem dúvida para a própria criança. O que vale é que a Milucha era uma bem disposta e ultrapassou esse episódio na «maior»!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

HISTÓRIAS DA MILUCHA IV

A Milucha era bem mais gorduchinha que eu e a minha irmã. E ela comia que se fartava: às vezes ia lá a casa à hora do lanche e a minha mãe não dava conta de pôr manteiga no pão - na altura queijo e fiambre só em dias de festa!

Enquanto nós comíamos uma fatia de pão com manteiga ela comia três ou quatro fatias. Naquele tempo a fartura não era escassa e -acabado o pão do dia ou deixado o resto para o meu pai que vinha muito tarde! - a minha mãe começava a dar à Milucha pão do dia anterior.

Certa vez estávamos todos nas varandas contíguas e ela pôs-se a contar à mãe que a vizinha lhe dera um pão com manteiga, masi outro pão, mais um e mais outro. E com isto batia no muro da varanda para realçar o que estava a contar. Aí eu não resisti e exclamei: «comeste esse pão todo porque era pão duro!» Bom, arranjei um equívoco desnecessário, a mãe da Milucha ficou toda melindrada e a minha mãe envergonhada! Mas naquele tempo o pão era um bem escasso e ... caro!!! E que saudades desse tempo...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

AS HISTÓRIAS DA MILUCHA - III

A Milucha tinha um medo terrível de aranhas! Sempre que via um aracnídeo - por mais pequeno que fosse - punha-se aos gritos e alertava o prédio todo, de tal modo que as vizinhas vinham às portas e às janelas ver o que se passava.

Como não conseguia matar aranhas, a Milucha «contratou» a minha irmã mais velha e a minha prima para matarem as aranhas que ela encontrasse na varanda. Assim foi: e a morte das aranhas até era bem paga para a altura, 25 tostões por aranha!

Mas o negócio não rendia por aí além pois, e embora aparecessem algumas aranhas porque as traseiras do prédio davam para o campo, o número de aranhiços não ultrapassava 2 ou 3 por semana. Então, a minha prima teve uma ideia soberba: ir apanhar aranhas ao campo e enxotá-las para a varanda da Milucha. Assim pensaram e assim fizeram, e até combinaram outra variante: aranha que aparecesse no quarto da Milucha valeria 3 escudos.

Negócio fechado e as aranhas começaram a aparecer em catadupa. De tal modo que um dia a mãe da Milucha descobriu e pôs fim à ilegalidade. E o negócio das aranhas foi à falência! Só os gritos da Milucha continuaram...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

AS HISTÓRIAS DA MILUCHA - II

Teríamos para aí uns 7 ou 8 anos e naquele tempo os nossos pais - à moda da província de onde tinham vindo uns anos antes - tinham capoeiras com galinhas, coelhos, patos e alguns tinham inclusive codornizes.

A Milucha era muito bruta para os animaizitos, não que fizesse por mal mas ela era mesmo assim: uma vez virou uma galinha de pernas para o ar de tal maneira que a galinha morreu; doutra vez puxou o rabo de um coelho pela rede da capoeira e ficou com o rabo do coelho na mão; outra das suas vítimas era uma codorniz: atava um cordel a uma perna da codorniz e ía passear com ela como se fosse um cão pela trela.

Certo dia estávamos todos na rua a brincar e a Milucha a passear a pobre da codorniz e tínhamos uma companhia muito atenta: um gato com os olhos fixos na codorniz! À menor distracção dos humanos, o gato deu um salto, abocanhou a codorniz e fugiu com ela na boca de tal modo que nem a Milucha conseguiu segurar o cordel.

Começaram as crianças todas aos gritos e fui eu que dei uma de herói, nem sei como: corri atrás do gato, ele saltou um muro, eu fiz o mesmo e quando o felino se preparava para saborear a gostosa ave eu apliquei-lhe um golpe de karaté (na altura nem sabia o que era isso!) tão bem aplicado que o gato largou a codorniz e fugiu!

Voltei para trás com a codorniz - já defunta - nas mãos! Foi um choro pegado! Mas a codorniz teve direito a um funeral condigno! Quanto ao gato ainda hoje a sua descendência deve estar a maldizer o tataravô gato!!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

AS HISTÓRIAS DA MILUCHA - I

A Milucha foi minha vizinha do lado durante alguns anos quando eu estava em casa dos meus pais. Tinha mais ou menos a minha idade, um pouquito mais velha só, e um pouco mais nova que a minha irmã mais velha e uma prima minha que costumava passar os verões lá em casa. E muitas vezes a Milucha - coitada - era alvo das brincadeiras da minha irmã e em especial da minha prima.

Ela era gorduchinha e usava as calças muito apertadas! Então, um dia a minha prima atraiu-a à sala e começou a puxar por ela, que ela «não era capaz de fazer a espargata», etc, etc, e lá começámos todos a fazer tenção de fazer a espargata. A Milucha não queria ficar atrás de nós e começou a abrir as pernas para conseguir fazer a espargata - então, a minha irmã foi com um pedaço de pano por trás dela sem ela ver e rasgou o pano, dando a ideia que tinham sido as calças da Milucha que se tinham rasgado com o esforço para fazer ginástica!

A Milucha entrou em pânico, começou a gritar pela mãe, encostou-se à parede pensando que tinha realmente as calças rasgadas e só quando a mãe dela apareceu é que se resolveu a situação. A Milucha ficou amuada connosco mas poucas horas depois já estava de novo lá em casa!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ELE DAVA TUDO POR UM FESTIVAL DE MARISCO...

Não havia festival de marisco em que ele não estivesse presente, nem que tivesse de percorrer não sei quantos quilómetros! Era doido por todo o ambiente que rodeava estes encontros e estes festivais. Apreciador da boa vida e das coisas boas da vida, acabava por levar sempre alguém com ele, pessoas da família ou amigos!

Naquela vez o festival era numa localidade chamada Atalaia no concelho da Lourinhã. Conseguiu convencer uns amigos a acompanhá-lo e lá foi ele no seu carro... duas horas só para chegar lá, apanharem um trânsito terrível e estiveram mais de meia hora para estacionar... mas o marisco lá estava!

Acabado de estacionar havia que procurar lugar nas mesas, tarefa ainda mais difícil... mais uma hora e meia para acrescentar à paciência... já os amigos desesperavam quando, finalmente, lá surgiu um lugar para se sentarem... e o marisco lá estava!

A isto tudo some-se mais meia hora até um empregado vir perguntar o que queriam e finalmente ele pôde descansar, pedir e desfrutar da ementa de que ele mais gostava e para a qual não se importava de percorrer a distância que fosse preciso e esperar nas filas o tempo que tinha que ser... foi com um sorriso que disse para o empregado: «para mim um bitoque se faz favor... mal passado e com o ovo à parte!!!»

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

UM PROFESSOR... À MODA ANTIGA!

Ele tinha fama de ser um professor irascível, antipático, mau carácter, péssimo colega e implacável com os alunos... a atestar essas suas «qualidades» o facto de ter sido corrido de duas escolas anteriormente Agora tinha ido parar àquele agrupamento e nada faria pensar que ali ficasse muito tempo - decerto que os pais dos alunos iriam mover todos os pergaminhos para o substituírem. Ainda por cima ele era professor de uma disciplina sensível: Matemática!

Mas como ele era efectivo na escola, no princípio do ano pouco ou nada os pais e os colegas podiam fazer... então, era aguardar! Decerto que dentro de uns dias ou semanas ele entraria em conflito com algum ou com alguns alunos e aí seria mais fácil confrontá-lo e pô-lo a «mexer»!

Passaram alguns dias e o mais estranho nesse professor eram umas visitas que ele recebia de uns jovens, sempre diferentes! Seriam pessoas para os seus vinte e poucos anos, chegavam perto da escola em bons carros, estacionavam, perguntavam pelo tal professor e - dizia quem via - que ficavam em alegre cavaqueira durante vários minutos... No dia seguinte seriam outros a virem visitá-lo à escola!

Mas quem seria essa gente? Alguém se deu ao trabalho de descobrir e chegaram à conclusão que eram todos antigos alunos do professor, a maior parte deles médicos, outros engenheiros, outros cientistas, outros arquitectos... que vinham agradecer o facto de ele ter sido... um professor à moda antiga quando foi professor deles!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

ASSÉDIO NO HIPERMERCADO!

Ele tinha pouco que fazer e então passeava-se todos os dias pelo hipermercado. Comprava pouca coisa de cada vez para lá voltar muitas vezes! É claro que ao fim de alguns meses conhecia todas as funcionárias das caixas, do interior da loja e da reposição de produtos, e não só as conhecia como sabia o nome delas, se eram casadas, solteiras, divorciadas, se tinham filhos, onde viviam, etc, etc.

Tão presente era que começou a dar demasiado nas vistas: daí a correr o boato de assédio sexual por parte de um cliente habitual às funcionárias mais bonitas do hipermercado foi um ápice... e, boato ou não, a informação chegou à administração do estabelecimento. Realmente não era normal um cliente deslocar-se todos os dias, várias vezes por dia, comprar poucos produtos de cada vez - geralmente só comprava uma coisa de cada vez - de escolher minuciosamente a caixa por onde queria sair com as compras, programar as suas visitas consoante o horário de algumas funcionárias... não era normal e o caso ganhava já contornos que extravasavam o próprio hipermercado...

... Até que um dia... foi solicitada a sua presença na administração - não era difícil convocá-lo, ele estava lá sempre! - e aí ele próprio sentiu que se tinha metido numa grande complicação: talvez não devesse ter dito que a Rosa era bonita, ou que a Marília era infeliz com o marido, ou que a Felismina tinha tudo a ganhar se arranjasse o cabelo... bom, mas antes ser chamado à administração que à polícia...

... O novo Director de Recursos Humanos do hipermercado é a pessoa mais conhecedora de todos os seus funcionários... bom, só teve que aprender algo sobre os homens porque sobre as funcionárias... ele já sabia tudo!!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

PROGNÓSTICOS PARA A VIDA... OU TALVEZ NÃO!

Ele estava ansioso com a chegada do dia 1 de Setembro. E isto porque no início do ano anterior um astrólogo tinha-se cruzado no seu caminho e tinha adivinhado que ele vinha de um período complicado em que perdera a pessoa que amava (tendo-a reconquistado depois) mas avisava-o que ele iria passar por um período horrível até Setembro desse ano, e que aconteceriam coisas terríveis, tais como perder o emprego, perder amigos e perder algumas ilusões...

Depois, a partir desse Setembro - mas ainda sob a influência maléfica de Saturno - as coisas começariam a melhorar lentamente... mas no princípio do ano seguinte (este em que agora estava) sofreria o maior choque da sua vida... mas logo depois uns anjos lhe apareceriam e viriam em seu auxílio e caminhariam a seu lado... e depois, no Setembro seguinte, Júpiter - o planeta poderoso e bom - entraria em acção e a sua vida mudaria para muito melhor, e desta vez definitivamente...

... Por isso toda a expectativa que ele depositava nesse princípio de Setembro, um mês que para ele significava sempre recomeço... esse dia amanheceu cheio de Sol, ele levantou-se cedo, abriu a janela, respirou fundo e confirmou para consigo próprio que «estava vivo, tinha saúde e tinha perto de si as pessoas de quem gostava!»... E isso chegava! Agradeceu a Júpiter e ao astrólogo... onde quer que ele estivesse...